segunda-feira, 7 de maio de 2018

Agroecologia

por Perci Guzzo *



Há vários problemas brasileiros alardeados pela imprensa. Há outros tantos silenciados. A “terra preta” é um solo muito fértil encontrado na Amazônia em locais onde havia presença humana. Povos indígenas primitivos souberam extrair da natureza, enriquecer o solo e manter a floresta.

A agroecologia difere da agricultura convencional pela maior garantia de proteção dos recursos naturais e da produtividade agrícola a longo prazo, pelo uso mínimo ou ausente de agroquímicos – fertilizantes e agrotóxicos, e pela satisfação das necessidades humanas de alimento e renda.

Nos últimos anos tem sido expressiva a demanda por alimentos orgânicos, bem como sua produção e comercialização. É uma forte tendência de mercado; semente e fruto de uma nova consciência.

Munique na Alemanha, em seu zoneamento ecológico-econômico, destinou parte de seu território para uso exclusivo de produção de alimentos orgânicos. Terras onde estão localizadas nascentes e berços de água que abastecem a cidade. Implantou política governamental com investimentos para incentivar proprietários a produzirem sem uso de veneno.

A porção Leste e Nordeste de Ribeirão Preto, onde ocorre a recarga do Aquífero Guarani pode ser destinada à produção de alimentos orgânicos. O debate se é melhor ocupar com cana-de-açúcar ou construção civil deve ser superado. O cultivo da cana consome muita água e emprega agrotóxicos, contribuindo com a super-exploração e a contaminação do aquífero. A urbanização impermeabiliza grandes áreas, impedindo a infiltração natural da água da chuva para os lençóis profundos.

A duplicação da avenida Antônia Mugnato Marincek, sobretudo do trecho a partir da Capela Santa Rita de Cássia das Palmeiras, tem o objetivo de levar mais empreendimentos imobiliários para a Zona Leste. Mais impacto na área de recarga. Há residências vazias de sobra em Ribeirão. O que não há é política habitacional que ajude famílias pobres a adquirirem moradias.

Em 2017, a professora Larissa Miles Bombardi, do Departamento de Geografia da USP, lançou o Atlas “Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia”. Dentre tantos dados alarmantes, chama atenção o crescimento exponencial do emprego de agroquímicos e os casos de intoxicações e mortes no campo. Em média 15 notificações por dia! Para cada morte por conflito de terra, cinco morrem pelo uso excessivo de “defensivos agrícolas” nas culturas de soja, milho, cana, algodão, café e citrus.

Como estará a situação para hortaliças, frutíferas e outras culturas?
Em nossa região, a Fazenda São Luiz, localizada entre São Joaquim da Barra e Morro Agudo, tem ocupado parte de suas terras com o sistema agroflorestal, um modo de produzir alimentos e conservar a terra. Os resultados dessa empreitada já somam 21 anos e vêm alcançando locais distantes do Brasil. Recentemente, o Mutirão Agroflorestal compartilhou conhecimentos e práticas com o povo Yawanawa, na Terra Indígena Nova Esperança, no Acre. Meu coração pulsou mais forte ao ver as imagens desse intercâmbio postadas em rede social!

Que doenças estão sendo desencadeadas precocemente a partir do uso excessivo de agrotóxicos? Quantos corações brasileiros no campo e na cidade têm sido silenciados por esse motivo?

(*) Perci Guzzo é ecólogo e mestre em Geociências e Meio Ambiente.