Habitat. Termo da Ecologia que designa o local onde vive e sobrevive a população de uma determinada espécie. O habitat de muitas espécies de bactérias, vírus e protozoários são as células e os órgãos de animais silvestres ou de animais domesticados. Pode-se encontrar uma enorme comunidade de micróbios no intestino de um único cupim! Em condições naturais, os hospedeiros não são prejudicados, pois vivem uma interação benéfica com seu hospedado. Nós carregamos, por exemplo, uma flora e fauna microbiana benéfica em nossos intestinos que ajudam no processo digestivo. O problema se dá quando acontece o que chamamos de “ultrapassagem da barreira de espécie”.
Os coronavírus formam uma família com pelo menos 5 espécies. O gênero Alphacoronavirus possui uma espécie que causa a gastroenterite em cães e uma outra que causa peritonite infecciosa felina. Essas duas doenças não acometem os humanos. O gênero Betacoronavirus, no entanto, possui três espécies que resultam em doenças respiratórias para a população humana. São elas: a Mers-CoV que causa a síndrome respiratória do Oriente Médio, a Sars-CoV, responsável pela síndrome respiratória aguda grave, e a Sars-CoV2 que nos acomete neste momento com a doença chamada covid-19; um tipo de pneumonia seca.
A pandemia que enfrentamos neste momento tem causa ambiental e sanitária.
A perda de habitats por desmatamento é a principal causa da extinção de espécies. Além disso, o modo como substituímos os habitats naturais para ceder lugar à agropecuária, à urbanização e à industrialização é responsável por desequilíbrios profundos nas relações entre as espécies. Por exemplo: para satisfazer nosso apetite por carne bovina, já transformamos o equivalente a uma África de florestas e savanas em pasto. A perda de biodiversidade genética, de espécies e ecossistêmica é algo fabuloso e sem precedentes. Nós sequer conseguimos mensurar o tamanho das desarmonias que estamos provocando. Tresloucadamente vamos devastando! Os instrumentos de controle existentes não têm sido suficientes para prevenir, precaver, mitigar e compensar os impactos na natureza.
Voltemos ao âmago do artigo. Um exemplo clássico de ultrapassagem da barreira de espécie é do vírus Ebola. Estudos científicos demonstraram que em áreas recém desmatadas na África Ocidental a aparição do vírus em diversas espécies de morcegos é mais frequente do que em áreas preservadas. Tendo seus habitats destruídos, os morcegos chegam até as fazendas e jardins das casas para se alimentarem de frutas. A proximidade do morcego com o ser humano se estreita. Uma pessoa ao morder uma fruta já visitada por um morcego, em que tenha havido o depósito de saliva do animal, não é difícil ocorrer o contato com o vírus. No morcego o Ebola é benéfico, mas no ser humano, a partir de mutações, tornou-se um agente patogênico letal. A doença se caracteriza por sangramento dos órgãos internos.
Nos mercados de animais vivos, “organizados” por nós para o comércio de carnes, muitas espécies que jamais estariam próximas uma da outra na natureza, ficam por longos períodos lado a lado. Nessas condições, os micróbios, algumas vezes, conseguem passar de uma espécie para outra, inclusive para o Homo sapiens. Em um novo hospedeiro, o vírus, a bactéria ou o protozoário, sofre mutações e se torna um agente patogênico. Esta é, até o momento, a causa mais provável para o aparecimento da pandemia da covid-19.
Se passarmos por essa, há pelo menos três medidas para controlar, pelo menos em parte, novas e severas pandemias. A ampliação do habitat humano deve internalizar os conhecimentos da Ecologia e da Biologia, entre outras áreas das Ciências Naturais e Humanas, para que deixemos no passado nosso incomensurável amadorismo no trato com a natureza. A regulação e fiscalização ambiental e sanitária da produção e do comércio de carnes devem ser revisadas e alçadas a um padrão seguro e sustentável. Por fim, torna-se inadiável uma alteração em nossa dieta exageradamente rica em proteína animal.
Agora, se quisermos, que nosso habitat seja apenas nossa casa e nos mantenhamos em quarentena pelo resto de nossos dias, continuemos a ignorar ou fazer de conta que estamos agindo perante tudo o que vem sendo revelado pelos estudos científicos sobre a devastação que estamos provocando na Terra.
Eu desconfio que cuidar do planeta gera mais empregos e mais riquezas do que destruí-lo.
Namastê.
Os coronavírus formam uma família com pelo menos 5 espécies. O gênero Alphacoronavirus possui uma espécie que causa a gastroenterite em cães e uma outra que causa peritonite infecciosa felina. Essas duas doenças não acometem os humanos. O gênero Betacoronavirus, no entanto, possui três espécies que resultam em doenças respiratórias para a população humana. São elas: a Mers-CoV que causa a síndrome respiratória do Oriente Médio, a Sars-CoV, responsável pela síndrome respiratória aguda grave, e a Sars-CoV2 que nos acomete neste momento com a doença chamada covid-19; um tipo de pneumonia seca.
A pandemia que enfrentamos neste momento tem causa ambiental e sanitária.
A perda de habitats por desmatamento é a principal causa da extinção de espécies. Além disso, o modo como substituímos os habitats naturais para ceder lugar à agropecuária, à urbanização e à industrialização é responsável por desequilíbrios profundos nas relações entre as espécies. Por exemplo: para satisfazer nosso apetite por carne bovina, já transformamos o equivalente a uma África de florestas e savanas em pasto. A perda de biodiversidade genética, de espécies e ecossistêmica é algo fabuloso e sem precedentes. Nós sequer conseguimos mensurar o tamanho das desarmonias que estamos provocando. Tresloucadamente vamos devastando! Os instrumentos de controle existentes não têm sido suficientes para prevenir, precaver, mitigar e compensar os impactos na natureza.
Voltemos ao âmago do artigo. Um exemplo clássico de ultrapassagem da barreira de espécie é do vírus Ebola. Estudos científicos demonstraram que em áreas recém desmatadas na África Ocidental a aparição do vírus em diversas espécies de morcegos é mais frequente do que em áreas preservadas. Tendo seus habitats destruídos, os morcegos chegam até as fazendas e jardins das casas para se alimentarem de frutas. A proximidade do morcego com o ser humano se estreita. Uma pessoa ao morder uma fruta já visitada por um morcego, em que tenha havido o depósito de saliva do animal, não é difícil ocorrer o contato com o vírus. No morcego o Ebola é benéfico, mas no ser humano, a partir de mutações, tornou-se um agente patogênico letal. A doença se caracteriza por sangramento dos órgãos internos.
Nos mercados de animais vivos, “organizados” por nós para o comércio de carnes, muitas espécies que jamais estariam próximas uma da outra na natureza, ficam por longos períodos lado a lado. Nessas condições, os micróbios, algumas vezes, conseguem passar de uma espécie para outra, inclusive para o Homo sapiens. Em um novo hospedeiro, o vírus, a bactéria ou o protozoário, sofre mutações e se torna um agente patogênico. Esta é, até o momento, a causa mais provável para o aparecimento da pandemia da covid-19.
Se passarmos por essa, há pelo menos três medidas para controlar, pelo menos em parte, novas e severas pandemias. A ampliação do habitat humano deve internalizar os conhecimentos da Ecologia e da Biologia, entre outras áreas das Ciências Naturais e Humanas, para que deixemos no passado nosso incomensurável amadorismo no trato com a natureza. A regulação e fiscalização ambiental e sanitária da produção e do comércio de carnes devem ser revisadas e alçadas a um padrão seguro e sustentável. Por fim, torna-se inadiável uma alteração em nossa dieta exageradamente rica em proteína animal.
Agora, se quisermos, que nosso habitat seja apenas nossa casa e nos mantenhamos em quarentena pelo resto de nossos dias, continuemos a ignorar ou fazer de conta que estamos agindo perante tudo o que vem sendo revelado pelos estudos científicos sobre a devastação que estamos provocando na Terra.
Eu desconfio que cuidar do planeta gera mais empregos e mais riquezas do que destruí-lo.
Namastê.
(*) Perci Guzzo é ecólogo e mestre em Geociências e Meio Ambiente.
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