quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Sopa rala de plástico

por Perci Guzzo *



Estima-se que oito milhões de toneladas de lixo são lançados anualmente nos mares. A onipresença do plástico em relação aos demais resíduos sólidos – papel, papelão vidro e metais – é indiscutível. A desintegração desse material resistente, leve e durável, pode levar de 450 anos a nunca. Nos últimos anos foram descobertas imensas quantidades em inúmeros cantos do planeta, tanto no leito como na superfície, tornando nossos oceanos sopas ralas de plástico.

Como não nos preocupamos com o que acontece com o canudinho, o copinho e a sacolinha, após o cumprimento de sua efêmera função, estamos gerando um problema ambiental de proporções semelhantes às mudanças do clima.

Os animais marinhos e costeiros estão sendo impactados dire­tamente. Moluscos, peixes, tartarugas, aves e baleias, ao ingerirem pedaços de plástico que se assemelham a alimentos, sentem uma falsa sensação de saciedade e se mantém esfomeados, fracos e letárgicos. A Campanha “Mares Limpos” das Nações Unidas tem como um de seus slogans a mensagem “Até 2050 poderemos ter mais plástico do que peixes no mar”.

Pesquisadores se debruçam atualmente para avaliar se os nanoplásticos – partículas invisíveis resultantes da fragmentação pela ação do calor, do vento e das ondas – podem romper a bar­reira das células e se acumularem em tecidos e órgãos de peixes que nos servem de alimento.

Como podemos lidar com tudo isso?

O recolhimento regular de lixo deve ser ampliado, chegando aos locais onde ainda não há coleta. A disposição final deve ser em aterros sanitários ou em usinas de reciclagem. O setor privado precisa tornar-se co-responsável nessas tarefas junto ao Poder Pú­blico, considerando que é parte causadora do problema. São em­presas que produzem, comercializam e lucram com embalagens. É preciso evitar que o plástico chegue aos rios, lagos e mares.

Alternativas por plásticos que se harmonizam com a biosfera estão sendo testadas como polímeros sintetizados a partir de micro-organismos e que possam ser descartados em compostei­ras. No entanto, trata-se de alternativa que mantém a cultura do descartável. Um modelo de “economia circular”, no qual tudo é reutilizado e reciclado, talvez seja a maneira mais responsável de buscarmos solução para o problema.

Há ainda a possibilidade de taxação do plástico de uso único – pratos, talheres, canudos, copos, sacolas, caixinhas de isopor para alimentos e sachês – como anunciou o governo britânico recen­temente. Outros países como Costa Rica e França se propõem a banir o plástico de uso único até 2025. Empórios e seções de supermercados com produtos a granel, sem embalagens, é um forte apelo a comunidades que desejam contribuir para redução desses resíduos.

Desde o início de junho deste ano iniciei minha recusa ao plástico de uso único. Tem sido uma tarefa que implica em vários “nãos” ao longo do dia. Na minha mochila carrego caneca para água, colherzinha de pau para misturar o açúcar no café e sacolas já usadas. Há um movimento crescente no mundo pelo “desperdício zero”. Sinto que estou me aliando a ele à medida que mergulho mais profundamente nesse tempo histórico em que vivo. Você engrossa esse caldo comigo?

(*) Perci Guzzo é ecólogo e mestre em Geociências e Meio Ambiente.

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